Arte e natureza
Onde se amontoa o milho
Eu guardo o teu segredo
e tu guardas o meu.
Escapulo-me do rebuliço,
(vou ao teu encontro)
afasto as canas com uma mão
(vou ao teu encontro)
e com a outra,
o cabelo do milho
com um braço
(tenho um novelo quente no tórax)
e com o outro
(uma alegria pulsa no pássaro dentro do ovo).
Os meus passos, velozes
(o movimento ascendente dos joelhos)
indiferentes ao burburinho
da relva
(a consternação que diz
não escuto),
ao arranhão com que
as silvas sempre surpreendem
(detenho-me um pouco na dor).
E afirmo-te:
Se vir os vendilhões,
escorraçá-los-ei
com tal violência
que não me reconhecerei,
(ando de roda do dourado dos grãos)
que este espaço é sagrado.
Abigail Ribeiro
10 de agosto de 2022
Imagem: “Colheita de Milho”, de Cândido Portinari (1959)
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