A Calma É Um Braço

 

A calma é um braço.

Há um lago de leite

e, ao fundo, o pôr do sol,

esvaindo-se em tons de salmão.

Esta é a hora.

Um dedo toca

o oceano brando,

e um relevo de círculos

concêntricos

deixa-se embalar

no sussurro da brisa

e das águas

lentas.

Os flamingos da minha imaginação

esvoaçam,

banham-se,

descansam de pé sobre uma pata.

O silêncio é o som

das aves, da brisa, da água,

recapitulado.

Um braço humano eleva-se

e abre na elegância de um arco.

A cabeça reclina-se sobre o ombro nu.

O ar entra pelo nariz

e, de rompante,

humedece a coluna,

os seus pés descendo

a escada das vértebras

e sai pelo hálux

num fio que ata um pé à cabeça.

O braço pende

E apetece

o sono.

 

Abigail Ribeiro

25 de Novembro de 2022

 

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