Daqui vê-se o Mar
Sede
O mar deixou de fazer a cama (é sempre assim no verão).
Passa só os dedos, tira as engelhas (isso basta-lhe)
E sorri para dentro (sereno).
O verão é uma espécie de entardecer para o mar
(engana-se quem pensa ser época de exaltações).
Aquela espinha dorsal do sol no espelho das águas
É refresco, não arde.
No entanto,
não deixa de cuspir as algas (com soslaio),
De segregá-las (estas rosnam-lhe com o olhar),
Lombrigas de cabeças monstruosas,
Axilas misteriosas
Da maresia.
E elas ficam ali ressequidas,
Ressentidas
de sal,
na orla do cuspo
e da sede.
Abigail Ribeiro
26 de agosto de 2021
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